O Adeus a Um Grande Ídolo: Diego Armando Maradona
Um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos, o ídolo argentino Diego Maradona morreu nesta quarta-feira, dia 25 de outubro de 2020, após sofrer uma parada cardiorrespiratória. No início de novembro, ele havia passado por uma cirurgia no cérebro.
Maradona deixa uma marca que jamais será apagada na história do futebol mundial. Durante 21 anos de carreira, ele disputou quatro Copas do Mundo - tendo vencido uma, e fez história pelos clubes que passou. Fora de campo, Maradona colecionou algumas polêmicas, mas que não tiraram seu status de ídolo.
Desde sua luta contra o vício em drogas, passando pelo famoso gol intitulado 'Mão de Deus', confira algumas curiosidades sobre "El Pibe de Oro".
Infância pobre
Diego Armando Maradona nasceu em 30 de outubro de 1960, na cidade de Lanús, Província de Buenos Aires, Argentina. No entanto, ele cresceu em Villa Fiorito, um dos bairros mais pobres e perigosos de Buenos Aires. Foi no subúrbio da capital argentina onde ele começou a se destacar por sua habilidade com a bola nos pés.
Com apenas nove anos, foi levado por um amigo para fazer um teste no Argentinos Juniors e surpreendeu os observadores das categorias de base do clube. Era o início de uma trajetória de sucesso.
Início no Argentinos Juniors
E foi com a camisa do Argentinos Juniors que ele deu seus primeiros passos como jogador profissional. Sua estreia na Primeira Divisão aconteceu aos 15 anos, em 20 de outubro de 1976. Na época, ele já mostrava um repertório completo certeiro com a sua mágica perna esquerda: lançamentos, passes, dribles curtos, chutes certeiros de curta e longa distância, cobranças de falta e escanteios. E não demorou muito para receber sua primeira oportunidade com a camisa da seleção da Argentina.
Os primeiros passos na seleção argentina
Aos 17 anos, Maradona foi convocado pela primeira vez para defender a seleção de seu país. Sua estreia internacional aconteceu em 1977 contra a Hungria. No ano seguinte, foi polemicamente cortado pelo técnico César Luis Menotti da Copa do Mundo após integrar o grupo dos pré-convocados. No ano seguinte, mostrou que talvez o treinador tenha errado na escolha.
Em 1979, o jogador liderou a equipe argentina na conquista da Copa do Mundo Juvenil (Sub-20) no Japão. Marcou seis vezes e foi eleito o melhor jogador da competição. Foi também em 1979 que ele marcou o primeiro gol pela seleção principal, em sua nona partida por ela. O gol foi anotado na vitória por 3 a 1 contra a Escócia.
Vira ídolo no Boca Juniors também
Após seis anos jogando no Argentinos Juniors, Maradona foi para o Boca Juniors em 1981. Mas sua passagem pela equipe que o revelou foi tão marcante que o clube renomearia seu campo para Estádio Diego Armando Maradona mais tarde.
Sua primeira passagem pelo Boca Juniors durou apenas um ano (1981-1982), mas já foi suficiente para ele conquistar um campeonato nacional. Ao deixar o clube argentino, Maradona virou jogador do Barcelona, onde atuou de 1982 até 1984. Conforme confessou em sua autobiografia "La mano de Dios", foi nesta época que ele passou a consumir cocaína.
O maior ídolo do Napoli
Maradona deixou o Barcelona em 1984 e foi para o Napoli, onde é, até hoje, o maior ídolo da história do clube. O atleta atuou no time de 1984 até 1991. Durante os anos em que esteve na Itália, ajudou o Napoli a conquistar o Campeonato Italiano duas vezes, a Copa da UEFA, Copa da Itália e a Supercopa da Itália.
Porém, em 17 de março de 1991, seu vício em cocaína custou-lhe a primeira suspensão de 15 meses. Depois disso, Maradona deixou a Itália.
Voltando para casa
Maradona deixou o Napoli e acertou com o Sevilla, da Espanha, onde jogou de 1992 até 1993. De lá retornou à Argentina para uma breve passagem pelo Newell's Old Boys. Na equipe de Rosário, ele sofreu uma sucessão de lesões musculares que provocaram o término de seu contrato, após apenas cinco jogos oficiais e alguns amistosos.
Depois da Copa do Mundo de 1994 e uma nova sanção, vestiu mais uma vez a camisa do Boca Juniors, onde se aposentou em 25 de outubro de 1997, cinco dias antes de seu 37º aniversário.
La Mano de Dio
Talvez o ano mais importante de sua carreira tenha sido o de 1986, quando conquistou a Copa do Mundo do México como capitão da seleção argentina. Foi lá que marcou o famoso e polêmico gol "La Mano de Dios".
O gol foi anotado contra a Inglaterra nas quartas de final, quando a Argentina venceu por 2 a 1 e conseguiu a classificação para a próxima fase. Questionado sobre o polêmico gol, Maradona disse: "O gol foi marcado um pouco pela mão de Deus, um pouco pela cabeça de Maradona". O título de 86 foi conquistado contra a Alemanha Ocidental.
O gol mais bonitos das Copas
Foi também contra a Inglaterra, no Mundial de 1986, que Maradona fez o gol mais bonito de sua carreira. Maradona driblou quase um time inteiro, com uma arrancada ainda de seu campo defensivo, para fazer 2 a 0.
Aliás, aquele gol não é apenas considerado o mais bonito de sua trajetória profissional, mas também o mais bonito da história das Copas do Mundo. Uma verdadeira pintura!
Punição em 1994
Pela seleção argentina, ele também foi vice-campeão na Copa do Mundo da Itália em 1990. Maradona foi convocado ainda para outros dois mundiais: Espanha-1982 e Estados Unidos-1994. Em sua última Copa, ele pronunciou a famosa frase "cortaram minhas pernas".
A frase foi dita após Maradona testar positivo no controle antidoping para a efedrina - muito utilizada em medicamentos para emagrecer. Por conta disso, recebeu uma suspensão de 15 meses, a segunda de sua vida. Mas Maradona sempre negou que estivesse dopado durante a competição. Segundo ele, o brasileiro João Havelange, então presidente da Fifa, liderou um complô para impedir que a sua seleção conquistasse o título.
Durante a punição, ele vira treinador
Por conta da punição de 15 meses, Diego Maradona precisou ficar afastado dos gramados. Foi então que ele iniciou sua carreira de treinador. Mesmo sem aposentar a chuteira, ele começou a treinar o pequeno Deportivo Mandyu e depois no Racing. Ao término da sanção como atleta, ele chegou a ser sondado pelo Santos, mas acabou retornando para o Boca Juniors e lá ficou até se aposentar oficialmente em 1997.
O vício do ídolo
Ao longo de sua vida, Maradona lutou contra vícios, tendo principalmente problemas com cocaína. Mas isso não fez com que ele perdesse seu status de ídolo. Em uma partida comemorativa em 2001, dentro do estádio La Bombonera lotado, Maradona falou sobre seus vícios. "Errei e paguei, mas o que fiz em campo não se apagou", disse Maradona, que também enfrentou problemas cardíacos e obesidade.
Amizade polêmica
Durante sua vida, Maradona abraçou líderes da esquerda latino-americana e chegou a ter uma forte amizade com Fidel Castro, quem o craque argentino tinha tatuado na perna esquerda, e Hugo Chávez. Ele também tatuou o rosto do revolucionário argentino Ernesto Che Guevara no peito.
Coincidentemente, Fidel Castro faleceu no mesmo dia que Maradona, com quatro anos de diferença - o ex-líder da ilha caribenha morreu em 25 de novembro de 2016.
O polêmico Maradona
Maradona se envolveu em uma série de polêmicas durante sua vida. Teve problemas com o fisco na Itália e na Argentina, atirou com armas de pressão contra jornalistas e protagonizou diversas situações controversas. Uma das maiores polêmicas aconteceu durante uma Copa do Mundo.
No Mundial de 1990, ele e os demais membros da delegação argentina "batizaram" com sonífero a água que foi oferecida aos atletas do Brasil durante o confronto pelas oitavas de final. Ele confirmou a "trapaça" anos depois em um programa de televisão. Mas nenhuma de suas polêmicas foi capaz de abalar seu status de ídolo, pelo contrário. Talvez suas polêmicas e problemas tenham feito dele uma figura ainda mais adorada.
Já foi apresentador
Em 2000, Maradona sofreu um ataque cardíaco devido a uma overdose. Foi nesta época em que ele chegou a se mudar para Cuba para realizar um tratamento contra as drogas.
Pesando 100 quilos, teve mais problemas de saúde em 2004. Depois, já recuperado, ele fez uma cirurgia bariátrica e perdeu 50 quilos. Em seguida, se tornou apresentador de um talk show, o "La noche del Diez" ("A noite do Dez"), onde recebeu figuras de todo o mundo, como Pelé, Xuxa, Mike Tyson e Fidel Castro.
Novas complicações
Em 2007, os excessos no consumo de álcool o levaram a uma nova hospitalização, dessa vez por hepatite. No mesmo ano, o ex-atleta e ídolo argentino se internou voluntariamente para tratar do alcoolismo. Cerca de um ano depois veio um novo desafio.
Em 2008, Maradona assumiu como técnico da seleção argentina. Sob seu comando, o time conseguiu a classificação para disputar a Copa da África do Sul, de 2010.
Treinou a seleção da Argentina na Copa
Depois de 13 anos sem treinar uma equipe, Maradona foi nomeado treinador da seleção argentina para o lugar de Alfio Basile. Ele permaneceu no comando do time de 2008 a 2010. O ex-jogador deixou o cargo logo depois que a Argentina foi eliminada nas quartas de final da Copa do Mundo de 2010 na África do Sul. A derrota foi para a Alemanha pelo placar de 4 a 0.
Último trabalho
Depois de liderar a seleção nacional, Maradona foi contratado para ser treinador do Al Wasl (2011-2012) dos Emirados Árabes e na sequência trabalhou no Al Fujairah (2017-2018). Depois, seguiu para o México, onde esteve à frente do Los Dorados de Sinaloa (2018).
Operado dos joelhos e com uma bengala, assumiu em 2019 em seu país o comando do Gimnasia y Esgrima La Plata, onde estava até então. No último jogo em que assinou uma súmula como treinador, o seu Gimnasia venceu o Patronato por 3 a 0. Ele tinha contrato com o clube até dezembro de 2021.
A família
Claudia Villafañe (foto) era namorada de adolescência do ex-jogador. Juntos, eles tiveram duas filhas: Dalma e Giannina. No entanto, após 24 anos, eles se divorciaram e em 2020 travam um duro litígio. Já em 2013, Maradona se tornou pai de Diego Fernando, fruto de seu relacionamento com Verónica Ojeda.
Mas Maradona descobriu novos herdeiros nos últimos anos. Em 2014, reconheceu Jana, nascida em 1996 e filha de Valeria Sabalain, e em 2016, após 29 anos de rejeição, reconheceu como filho Diego Junior, filho de Maradona com a italiana Cristina Sinagra. Segundo a Justiça Cubana, Maradona tem ainda outros três filhos na ilha centro-americana, que ele morreu sem reconhecer.
Uma igreja para o mito
A paixão por Maradona é tão grande na Argentina que alguns fãs chegaram a criar a "Igreja Maradoniana", em Rosário, que tem entre seus mandamentos "declarar amor incondicional a Diego e ao futebol".
Após a confirmação da morte de Maradona, a igreja anunciou no Facebook uma convocação para um "culto" de despedida ao redor do Obelisco, em Buenos Aires. A reunião tem como objetivo "agradecer que tenha baixado do céu há 60 anos e desejar um bom regresso ao local a que pertence".
Os últimos dias de Maradona
Maradona foi internado no começo de novembro após passar mal durante uma partida do Gimnasia, time que era treinador. Na chegada ao hospital, Diego precisou passar por uma cirurgia de emergência para aliviar uma pressão intracraniana e permaneceu internado até o dia 11 de novembro. Morreu em 25 de novembro de 2020, aos 60 anos, em sua casa na cidade de Tigre, vítima de uma parada cardiorrespiratória.